O Homem está muito longe de estabelecer um bem-estar geral, a satisfação das principais necessidades de toda a gente, o respeito e a amizade de todos os homens entre si, de modo que deixe de haver ou se reduzam ao mínimo a ambição, a discriminação, o ódio, a revolta, a infelicidade, a falta de assistência ou de solidariedade ...
Nos dias de hoje, apesar do progresso material, sobretudo tecnológico, continuam a ver-se, como dantes ou pior, problemas entre as pessoas, desumanidade, desigualdade, injustiça, ambição, guerra, carnificina, enorme desnível entre ricos e pobres ...
Por vezes passa pela cabeça de tanta gente, inclusive pela minha, fugir, se fosse possível, a tudo isto, fugir a esta civilização altamente tecnológica mas parecendo algo louca e suicida, altamente poluente e asfixiante, fugir para o isolamento, ir viver em paz e sossego algures em plena Natureza, sentindo no corpo e no espírito o natural ciclo equilibrante, longe do bramir atordoante e venenoso da actual civilização, que faz desesperar de algum dia haver paz, justiça e bem-estar equilibrados para toda a gente.
Desespero
Ó auroras de mansidão ferida,
dias de horas férreas e venenosas,
em vossas veias letais e ruidosas
sinto a pátria do espírito perdida.
Se Ceres fértil, de fronte florida,
e Pã com suas flautas maviosas
deixassem as tumbas fuliginosas
e em agro ou serra dessem paz de vida
à minha alma que em dor se esvai ferida,
fugiria às técnicas asquerosas
de urbes sem alma e feição poluída,
e mesmo em bagas de suor custosas
e em cabana com gretas construída,
não teria mais horas revoltosas.
(Poema meu.)
Mírtilo