Todos temos um lugar, uma personalidade e um viver no caminho para a morte.
Quarta-feira, 29 de Abril de 2009

          

     Hoje, 29 de Abril, que o rescaldo das comemorações  da Revolução já lá vai, e embora quase já só se comemore a recordação ou a saudade desse libertador dia 25 de Abril de 1974, deve  reafirmar-se  ainda com esperança  — para que tal reafirmação não corra mais o risco de tornar-se um lugar-comum, ou até esquecer — que a Revolução de 25 de Abril de 1974 pretendeu, e sobretudo viria a pretender, enterrando um sistema político-social antiquado, obscurantista e antipopular, dar livre expressão e justas oportunidades a toda a gente, «as portas que Abril abriu», para que se construísse um Portugal aberto, educado, justo, para todos. Não foi, porém, o que aconteceu de todo até agora, trinta e cinco anos passados, até bastante pelo contrário, certamente porque os homens que mandam no País, isto é, quem detém o poder político e quem detém o poder económico (que por vezes infelizmente se confundem), obedecem e agem  mais a uma lógica plutocrática, lucrosa e ostentatória, pouco tendendo para políticas ou obras de carácter social ou sem fins lucrativos, contaminando por aí a baixo a sociedade de exagerado espírito de dinheiro  e consumismo, com tudo o que de mau isso pode arrastar, juntando-se a tal o imenso descalabro económico-financeiro da crise que recentemente sobreveio, em Portugal e pelo mundo fora,  provocando uma torrente imparável de despedimentos, ainda que em parte ilegalmente, ficando, em consequência de tudo isto, uma grande parte da população em inerte pobreza, aprisionada nos seus fracos ou míseros salários e pensões ou em penúria completa, ou então endividada até para sobreviver ou para pagar o consumismo para que foi atraída pela agressividade negocial bancária.

 

                                          *   *   *

 

     De seguida, para melhor recordar, transcrevo um soneto meu, inédito, sobre o 25 de Abril de 1974, em que se vê ter sido uma revolução mais ou menos pacífica, para não dizer de todo pacífica, pois que o Poder de então vivia apenas escorado no pavor que infundia, e em que se vê também o que o povo sofria, sobretudo a sua falta de liberdade de expressão, e, em antítese, a sua voz livre e a sua alegria após a queda do opressor Regime, vendo-se também a tão grande coragem dos que fizeram a revolução.

 

 

                                    25 DE ABRIL

 

 

                     Escura, muda, dentro dela o segredo,

                  a noite parecia escrava, vulgar,

                  mas algures, sem o mocho piar,

                  alguns gestos, decisão sobre o medo,

  

                  trazem pela noite temerário enredo:

                  «Há um povo, que é escravo, a libertar!»

                  De repente, armas mudas a apontar

                  tombam o império, o terror, o degredo.

 

                  Madrugada. Segredam horizontes.

                  Manhã. Povo à rua. Tombam no chão

                  mordaças, grilhetas. Das mudas fontes

 

                  renasce a voz, unida em acusação.

                  Exulta a liberdade e chega aos montes.

                  Abril. A luz. Esperança doutro pão.

 

 

                  (Poema meu.)        

                  http://lagash.blogs.sapo.pt/2009/04/25/                                                             

                                                                           Mírtilo       

         

                        

                                            



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