O Castelo de Mértola tem sido de há cerca de vinte anos para cá restaurado pouco a pouco, dando-lhe feição de dignidade relativamente à sua importância histórica e à sua antiguidade. A sua antiguidade é, no entanto, algo desconhecida, ou discutível, sendo geralmente atribuída a sua fundação aos Árabes (antigamente designados por Mouros na História de Portugal), mas há dúvidas sobre se o Castelo, ou outra fortificação já ali existente, é originariamente árabe. É certo que a ocupação árabe o tornou seu e lhe imprimiu as suas características, talvez através de uma reconstrução geral, ou até total, pois os Árabes ficaram conhecidos como grandes reconstrutores ou reparadores de vários tipos de edificações, mas existiria certamente naquele local, no cimo do dominante planalto que se debruça para o rio Guadiana, alguma fortificação anterior fundada por qualquer outro povo. Esta dúvida foi manifestada pelo erudito arqueólogo do Sul que foi Estácio da Veiga, como também pelo insigne historiador e investigador histórico que foi Alexandre Herculano, chegando este a notar haver uma tríplice construção no Castelo de Mértola.
Além de outros povos anteriores, por ali passaram os Romanos, os Visigodos e os Árabes, que se serviram desse grande rio do Sul que é o Guadiana, a que antes dos Romanos os Cartagineses chamaram Hanas e depois os Romanos simplificaram em Ana (ou Anas), assim continuando com os Visigodos e os Árabes, chamando-lhe estes «wade» (então «rio» em árabe) Ana, que depois em português, pela conjugação ou aglutinação das duas palavras (o substantivo comum mais o nome propriamente dito), deu Guadiana.
O Castelo de Mértola hoje pode e merece ser visitado, com agrado e satisfação dos seus visitantes e desejo de voltar ou de recomendar a visita a outras pessoas.
O Castelo, no entanto, sofreu até há cerca de vinte anos a erosão do tempo, deteriorando-se ao longo de tantos séculos, sem que as autoridades tutelares ou responsáveis daquele tão vetusto monumento se importassem com isso.
Foi no Castelo de Mértola, velhinho e carcomido, mais que matusalénica edificação, Castelo arruinado mas eterno, o meu Castelo, foi nele que passei muito tempo da minha infância e adolescência, com amigos ou só, brincando, lendo ou estudando, sonhando, pensando, poetando, tentando olhar o futuro ...
É esse Castelo, o desse tempo, ainda que enrugado e sujo, que trago na memória e no coração, para sempre.
Meu Castelo
Castelo de Mértola, oh, Castelo meu,
pela infinda erosão do tempo carcomido,
adolescente, de ti, onde me senti protegido,
de sol, chuva, vento, pessoas, mirei eu,
vida ainda verde, algo confuso, o céu,
incógnito por cima, em baixo sofrido,
em ti sonhei, chorei, mudo ai ou gemido,
estudei, romances li, poetei, no seio teu
até adormeci, ou paixão me tangeu,
meu miradouro a toda a volta, preferido,
o que aí brinquei a memória não esqueceu,
também teus pássaros e ninhos não olvido,
nem mensagens que meu jovem espírito escondeu,
em ti, ao futuro, com esperança e dolorido.
(Poema meu.)
Mírtilo