Todos temos um lugar, uma personalidade e um viver no caminho para a morte.
Quarta-feira, 09 de Setembro de 2009

 

     

     O Castelo de Mértola tem sido de há cerca de vinte anos para cá restaurado pouco a pouco, dando-lhe feição de dignidade relativamente à sua importância histórica e à sua antiguidade. A sua antiguidade é, no entanto, algo desconhecida, ou discutível, sendo geralmente atribuída a sua fundação aos Árabes (antigamente designados por Mouros na História de Portugal), mas há dúvidas sobre se o Castelo, ou outra fortificação já ali existente, é originariamente árabe. É certo que a ocupação árabe o tornou seu e lhe imprimiu as suas características, talvez através de uma reconstrução geral, ou até total, pois os Árabes ficaram conhecidos como grandes reconstrutores ou reparadores de vários tipos de edificações, mas existiria certamente naquele local, no cimo do dominante planalto que se debruça para o rio Guadiana, alguma fortificação anterior fundada por qualquer outro povo. Esta dúvida foi manifestada pelo erudito arqueólogo do Sul que foi Estácio da Veiga, como também pelo insigne historiador e investigador histórico que foi Alexandre Herculano, chegando este a notar haver uma tríplice construção no Castelo de Mértola.

     Além de outros povos anteriores, por ali passaram os Romanos, os Visigodos e os Árabes, que se serviram desse grande rio do Sul que é o Guadiana, a que antes dos Romanos os Cartagineses chamaram Hanas e depois os Romanos simplificaram em Ana (ou Anas), assim continuando com os Visigodos e os Árabes, chamando-lhe estes «wade» (então «rio» em árabe) Ana, que depois em português, pela conjugação ou aglutinação das duas palavras (o substantivo comum mais o nome propriamente dito), deu Guadiana.   

     O Castelo de Mértola hoje pode e merece ser visitado, com agrado e satisfação dos seus visitantes e desejo de voltar ou de recomendar a visita a outras pessoas.

     O Castelo, no entanto, sofreu até há cerca de vinte anos a erosão do tempo, deteriorando-se ao longo de tantos séculos, sem que as autoridades tutelares ou responsáveis daquele tão vetusto monumento se importassem com isso.

     Foi no Castelo de Mértola, velhinho e carcomido, mais que matusalénica edificação,  Castelo arruinado mas eterno, o meu Castelo, foi nele que passei muito tempo da minha infância e adolescência, com amigos ou só, brincando, lendo ou estudando, sonhando, pensando, poetando, tentando olhar o futuro ...

     É esse Castelo, o desse tempo, ainda que enrugado e sujo, que trago na memória e no coração, para sempre.

 

 

 

 

 

                        Meu Castelo

 

 

Castelo de Mértola, oh, Castelo meu,

pela infinda erosão do tempo carcomido,

adolescente, de ti, onde me senti protegido,

de sol, chuva, vento, pessoas, mirei eu,

 

vida ainda verde, algo confuso, o céu,

incógnito por cima, em baixo sofrido,

em ti sonhei, chorei, mudo ai ou gemido,

estudei, romances li, poetei, no seio teu

 

até adormeci, ou paixão me tangeu,

meu miradouro a toda a volta, preferido,

o que aí brinquei a memória não esqueceu,

 

também teus pássaros e ninhos não olvido,

nem mensagens que meu jovem espírito escondeu,

em ti, ao futuro, com esperança e dolorido.

 

 

 

(Poema meu.)

 

 

 

                                                                                                                                                         Mírtilo

 

 

 

 

 

 


Quarta-feira, 06 de Maio de 2009

 

                                                        Actual MÉRTOLA, antiga MYRTILIS

 

 

 

   Mértola, vila do Baixo Alentejo, foi cidade muito importante e muito disputada durante as ocupações romana e árabe.  Era, pode dizer-se, o último porto do Mediterrâneo, naqueles tão recuados tempos, apesar de situada à beira do rio Guadiana a várias dezenas de quilómetros da sua foz.

   Foi a Myrtilis dos Romanos e a Mirtolah dos Árabes.

   Histórica e  monumentalmente  foi-se afundando, soterrando,  e foram também levados para fora bocados ou peças testemunhais do seu profundo passado.

   Mértola, já  na nossa época,  passou por um muito longo período de empobrecimento  a todos os  níveis,  e  alguns monumentos foram sofrendo deterioração, sobretudo o seu sobranceiro Castelo, que chegou a sofrer de avultada ruína.

   Depois de 25 de Abril de 1974, com a abertura de Portugal a si próprio e ao mundo, mais concretamente a partir da década de oitenta, a Câmara Municipal foi adquirindo técnicos e equipamentos e criando serviços apropriados que se foram encarregando de não só reparar as deteriorações ou arruinamentos existentes como também de pôr a descoberto, até aos dias de hoje, muita da riqueza histórica soterrada, numa altamente meritória e  incansável obra de levantamento arqueológico — de tal modo que nos dias de hoje Mértola é conhecida por Vila-Museu, valendo bem a pena uma visita a Mértola, sobretudo por parte de quem se interessa pela História ou pelo passado das nossas terras e do nosso povo.

   Voltarei a falar muitas mais vezes sobre Mértola. Agora, para completar ou esclarecer um pouco paisagisticamente a fotografia desta vila acima, vila que é, diga-se, linda e original, muito pictórica, descrevê-la-ei, a seguir, através de um soneto meu feito há muitos anos, que tem um nome muito elucidativo no sentido que aqui se propõe.

 

 

                                         Postal clássico

                                             de Mértola

                                        

                              

                       No alto planalto do cerro, o Castelo,

                       (apesar da ruína, altaneiro e belo);

                       pouco abaixo, a bem branca Igreja Matriz,

                       (mesquita antes da fundação do País);

 

                       muito a descer pelas encostas sul e nascente,

                       a vila antiga, branca tão expressivamente,

                       (que cidade forte foi na Antiguidade),

                       até a travar e proteger, na verdade,

 

                       a antiquíssima muralha circundante;

                       abaixo, o calmo Guadiana, deslizante,

                       (por muitos povos antigos tão navegado);

 

                       (o pendor poente é deserto e alcantilado);

                       para norte, extramuros, mais suavemente,

                       a vila expandida e a ponte, necessariamente.     

 

 

                        (Poema meu.)                              

 

 

                                                                                                                Mírtilo

                                                               

 

 

 

 

 

 



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