Todos temos um lugar, uma personalidade e um viver no caminho para a morte.
Quinta-feira, 18 de Março de 2010

 

     Todos, no dia-a-dia, vamos pouco a pouco, sem darmos por isso, cavando a nossa sepultura, às vezes também a de mais alguém ...

     Quando se é poeta da tristeza, da angústia, da amargura, do desespero, do sofrer em geral, isto é, quando se tem alma bastante sensível para tais estados interiores, mais depressa se vai cavando em geral a respectiva sepultura.

     A sepultura vai-se cavando enquanto se vive, até que por fim, ao fechar-se de todo a porta da vida, se fecha também a sepultura, irreversivelmente.

     E, ao caminhar-se para lá, o que entristece, angustia, desespera, atemoriza até, é não se saber o que está para lá deste mar da vida, em que nos vamos afogando, sepultando ...

     Resta  poder ter-se aquele vapor de esperança, a que se chama fé, de haver lá algo que nos compense, ou recompense, do sofrer por cá, absolvendo os merecedores e condenando os imerecedores.

 

 

 

                             

                      Cavo

           a minha sepultura

 

 

Cavo da alma e corpo a terra, dura,

pensamento por enxada, escura,

tristeza a semear, como cultura,

sem choro a regar, já seco em fundura,

 

e o fruto, a sazonar em negrura,

é sem sumo e só sabe a amargura,

e tanto que em mim tal sabor perdura,

qual infinda desértica lonjura,

 

e se amargo é meu viver e sem cura,

perpétua prisão que, subtil, tortura,

ando a cavar a minha sepultura,

 

ante o Demo, negra e córnea figura,

ou a Morte, de negra vestidura.

Valha-me Deus, que aos fracos não descura.

 

 

 

(Poema meu.)

 

 

                                                                   Mírtilo

 

 

                                    

  

publicado por Mírtilo MR às 22:49

Poeta, é bem verdade! Todos nós vamos cavando as nossas sepulturas e, sem dúvida, os artistas cavam-na, de uma maneira geral, muito mais rapidamente do que a esmagadora maioria dos outros seres humanos. Alguns de nós sacrificam anos de existência àquilo que acreditam estar correcto em relação às suas perspectivas de vida... pode parecer estranhíssimo, mas é assim mesmo.
Abraço grande.
Maria João Brito de Sousa a 19 de Março de 2010 às 14:23

Esqueci-me de dizer duas coisas... ainda estou "a deitar os bofes pela boca" porque larguei a maquineta, fui aos correios e voltei, peço desculpa pela precipitação. Esqueci-me de lhe desejar um Feliz Dia do Pai - caso o seja - e que, para além de "poder" e "querer", eu acredito que "devo" fazer o que estou a fazer. Não me pergunte exactamente porquê... parece-me que ficaria por aqui uma eternidade a tecer conjecturas... mas sei que devo!
Abraço grande!

Poetaporkedeusker:

Grato pela visita a esta «sepulcral» postagem, neste sempre descorado blogue.
Gostei que acima escrevesse que «pode» e «deve» fazer o que faz, referindo-se à poesia. Acredito nisso e enalteço-a, pois eu, se «pudesse» na mesma medida que você, também o faria, já que, quanto a «dever», sinto bem interiormente, quase inatamente, que «deveria» fazê-lo.
Quanto ao Dia do Pai, sou-o realmente, uma vez apenas, embora não de todo de harmonia com o meu ideal ... Mas agradeço-lhe atrasadamente os seus desejos de que eu tivesse um bom Dia do Pai.

Um abraço.
Mírtilo
Mírtilo MR a 23 de Março de 2010 às 19:33



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