Todos temos um lugar, uma personalidade e um viver no caminho para a morte.
Quarta-feira, 25 de Novembro de 2009

 

                                                 

     Tudo na vida muda ou evolui, para bem ou para mal, podendo dizer-se que o mundo é composto de mudança, como poetava Camões, e a Humanidade, aparentemente toda-poderosa, é como que arrastada, parecendo impotente, pela imparável ou fatídica corrente de mudança, quer seja mudança superficial ou profunda, ocasional ou rotineira, no campo científico e tecnológico ou no campo dos comportamentos e dos costumes, isto é, da moral tradicional.

     A moral tradicional, ou os bons costumes, em que se integravam sobretudo o respeito, a solidariedade, a dignidade, a honestidade, ou honradez, sempre foi, ao longo dos tempos, algo que muito contribuiu para manter os humanos em paz, quer cada pessoa consigo própria, quer na sociedade ou aglomerado social em que se vivia. E se alguém, muito esporadicamente, transgredisse essa moral, sadia, coerente, coesa, ainda que por vezes, por parte de uma ou outra pessoa, algo discutível num ou noutro aspecto, adviria em geral para o esporádico transgressor um sentimento misto de culpa e vergonha que encontraria eco no próprio aglomerado social em que se inseria, como que considerando, além de si e da entidade judicial (se fosse caso para isso), tal aglomerado social também seu juiz.

     Hoje, essa moral tradicional, sem a qual a vida em sociedade será um caos, tem sofrido rombos, golpes, digamos que, como tudo, tem sofrido mudanças, não sendo já o que era, já não mantendo tanto os homens em paz, não os fazendo  possuir tanto os sentimentos de respeito, dignidade, honradez, etc. 

     E um dos aspectos tão chocantemente transgredidos, por todo o lado, certamente o mais chocante, é matar alguém, tirar a vida violentamente, de modo selvagem, a um semelhante, com a maior das facilidades, a maior das friezas, aquando de um assalto ou  roubo, ou de uma briga, ou por zanga ou desavença, ou por inveja, ou até por um simples ou repetido conflito conjugal, para já não falar das guerras, igualmente condenáveis. 

     A moral tradicional está, infelizmente, sem sombra de dúvida, em falência, para mal de todos os humanos, sobretudo e mais sensivelmente para quem deseja a paz entre todos os homens.

 

 

 

                                               Homicídio

 

 

Dantes, se alguém a outrem tirava a vida,

havia em geral nas pessoas consternação,

sobretudo em quem com o morto tinha relação,

até a sentia e arrependimento o homicida,

 

pois matar sentia-se trágica acção.

Hoje, assassinar é quase banal investida,

fria, não consternada e não arrependida,

estranhos e amigos menos que dantes sentirão.

 

Mata-se, assassina-se, quase a toda a hora,

na guerra, rua, casa, campo, em todo o lado,

imagens na televisão, sem esperança de melhora.

 

E vai-se à força com isso ficando habituado,

e o homicida já de medo ou vergonha não cora

ao ser preso e ir a tribunal ser julgado.

 

 

 

(Poema meu.)

 

 

 

                                                                                                          Mírtilo                           

 

 

 

 

 

 

        

       


Quarta-feira, 11 de Novembro de 2009

 

 

     A corrupção está cada vez mais na ordem do dia,  mais e mais casos a aparecer, alguns já antigos, que pareciam estar totalmente bem em segredo, mas pouco a pouco vai-se levantando o véu de alguns desses ignóbeis casos de corrupção, em geral graças ao actual jornalismo de investigação.

     Sobretudo em órgãos ou serviços do Estado ou em  empresas em que o Estado tem interesses, ou entre elementos desses serviços ou dessas empresas, têm ultimamente surgido tantos suspeitos em casos de corrupção que bem poderia dizer-se que o Estado, através do seu Executivo, ou seja, o Governo, deveria estar envergonhado perante o povo, que elege os seus governantes, nomeando estes depois outros líderes, como gestores, administradores, etc., por familiaridade, amizade, coleguismo político, para outros serviços ou empresas em que surgem algumas dessas suspeitas de corrupção.

     A corrupção a alto nível é, por um lado, fruto da promiscuidade entre o poder e o grande capital, própria de regimes do moderno capitalismo liberal, e, por outro lado, a má consciência e a quase impunidade que alguns políticos e líderes empresariais sentem ou julgam poder ter fazem o resto. 

     Sendo a corrupção uma das piores manchas na honestidade do Homem, pervertendo valores de moral e justiça, que devem ser sagrados e impolutos, não se compreende que tamanho labéu, sobretudo a alto nível, isto é, praticada por supostamente tão importantes figuras da Administração Pública ou com ela relacionadas, esteja actualmente a aparecer com alguma frequência, pelo menos sob a forma de suspeitas, e isto não incluindo os casos que porventura possam ainda estar sob o véu do secretismo, ou do desconhecimento, ou da insuspeição. E a corrupção a alto nível mais detestável se torna para o comum cidadão na medida em que é praticada por indivíduos que já são profissional ou funcionalmente tão bem pagos. É a tentação totalmente desonesta de mais e mais dinheiro arranjar, de mais e mais enriquecer ilicitamente.

     É claro que o grande povo, o grande povo pobre e eleitor, há muito que se habituou, infelizmente, mas por força das circunstâncias, a pensar que a corrupção a alto nível ficará sempre ou geralmente impune, devido à argúcia de bons ou dos melhores advogados defensores, que se aproveitam sobretudo de aspectos formais dos processos e de recursos para adiar e tornar a adiar os respectivos andamentos. E, além disso, como os tribunais andam a abarrotar de processos e mais processos, a demora ainda mais se agrava, acabando tantas vezes por prescrever muitos dos processos.

     É lamentável ter de se dizer ou pelo menos de se pensar que temos tantos casos de políticos ou de governantes sobre quem recaem ou recaíram suspeitas de corrupção, algumas muito graves, ainda que não de todo comprovadas.

 

 

 

 

                          Corrupção

 

 

Há órgãos do Estado a eivar-se em corrupção,

antiga ou recente, sofisticada ou não,

ora isolada ora em secreta associação,

ou ignorada ou com oculta permissão.

 

Suspeitas e denúncias em constante explosão

têm forçado muito à investigação,

e há autarcas em tribunal ou na prisão,

agentes policiais na mesma situação,

 

outros funcionários com igual acusação,

mais uma Direcção-Geral sob suspeição.

E se prosseguir isenta a averiguação,

 

mais suspeitos e culpados aparecerão,

não só «peixe» miúdo, também médio e grandão.

Há que extirpar a burocrática podridão.

 

 

 

 

                              (Poema meu.)

 

 

 

                                                                                                                                                                 Mírtilo                                                                                                                                          

 

    



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