Hipótese de reconstituição da antiga cidade de Myrtilis, feita por desenho, com sua defensiva muralha a toda a volta, tendo no alto o Castelo e à sua direita o Fórum, de então.
Pormenor da Torre do Rio, para controlo da navegação e da água, a ligar a muralha ao rio.
(Ambas as ilustrações são de autoria de Leonel Borrela, in publicação do Campo Arqueológico de Mértola.)
A cinquenta quilómetros a sul da cidade de Beja, capital do Baixo Alentejo, fica a vila de Mértola, cujo nome proveio de Mirtolah, nome que os Árabes lhe davam, mas a povoação já vinha de há muito, muito, antes, chamando-lhe os Romanos Myrtilis, em cuja ocupação foi cidade importantíssima, já se cunhando ali moeda no século I antes de Cristo, privilégio que Roma só concedia a cidades muito importantes, com seu porto fluvial no rio Guadiana, então de grande tráfego comercial e por onde se escoavam sobretudo produtos agrícolas e minerais de toda uma vasta zona que viria a ser o Baixo Alentejo e parte do Alto, zona a integrar a romana Lusitânia, destacando-se, como produtos levados, cobre, prata e ouro das minas de São Domingos, no próprio concelho de Mértola, e das minas de Aljustrel, cuja zona mineira então se chamava Vipasca e distava de Myrtilis talvez quase uma centena de quilómetros, em navegação até à foz e pouco depois pelo Mediterrâneo adentro, onde floresceram e donde se expandiram então as mais importantes civilizações, considerando-se praticamente a então cidade de Myrtilis como o mais ocidental porto do Mediterrâneo.
A origem do nome de Myrtilis, no entanto, não é consensual, está envolta em certo desconhecimento, isto é, não é de todo certo que seja de origem latina, e neste caso poderá provir da língua fenícia.
A origem do próprio povoado inicial, primevo, é também algo brumosa, impossível de fixar sem qualquer dúvida, pois por lá passaram, antes dos Romanos, outros povos, Fenícios, Gregos, Cartagineses, e antes destes o povo cinésio, também conhecido por povo cúneo, tendo também andado não muito longe dali povo celta e povo túrdulo.
Actualmente, vale bem a pena uma visita a Mértola, pois, além de certos eventos de que se destaca anualmente, pela sua singularidade, o Festival Islâmico, poderão ser visitados vários núcleos museológicos organizados com base numa intensa e esforçada actividade arqueológica desenvolvida desde a década de oitenta, que lhe mereceram o bom e justo epíteto de Vila-Museu, assim como poderá ser saboreada a sua importante gastronomia regional, de que se salientam pratos de caça e de lampreia.
Teu nome Myrtilis
Na sombra do sem fundo abismo temporal
perde-se tua origem e designação,
a origem envolve-a quiçá mor escuridão,
desde o primevo povoado que houve no local,
e, brumoso também, a ver-se menos mal,
teu nome será de menor especulação,
talvez de Myrtiri, fenícia expressão,
Nova Tiro a significar, como um ideal,
ou de Myrtilus, filho de Mercúrio, a provir,
Mercúrio ou Hermes, e de latim ou grego a resultar,
ou do latim myrtus, mas do grego já a vir,
que em português mirto ou murta veio significar,
planta talvez por ali muito a existir.
E após moura Mirtolah, Mértola veio a dar.
(Poema meu.)
Mírtilo