Domingo é o dia geralmente consagrado ao descanso, é um dia em que, pela legislação do trabalho, se interrompe, ou deve interromper, durante esse dia, a relação laboral com a entidade patronal, seja ela uma entidade além de nós, ou propriamente nós, para efeitos de descanso.
O domingo é, ou deverá ser, obviamente mais do que os outros dias, dedicado à família, aos amigos, à sociedade e, digamos, porque não, também à religião, pelo menos para as pessoas mais crentes e mais praticantes religiosamente.
A palavra domingo, que em latim se dizia «dies dominicus», isto é, «dia do Senhor» – e diga-se que todos os dias em latim tinham a palavra «dies» («dia») –, ao passar para português deixou cair o elemento «dia», e o elemento fundamental, «dominicus», um adjectivo, com o acusativo «dominicum» – e era do acusativo latino de adjectivos e substantivos que se fazia o aportuguesamento –, viria a dar em português «domingo».
Entre os Cristãos, o domingo deve ser realmente consagrado ao descanso e à oração, formulando-lhes a Igreja o dever de irem à missa.
É claro que há actividades, hoje muito mais que antigamente, em que alguém tem de trabalhar ao domingo, para bem dos que descansam.
* * *
Deixarei aqui, a seguir, um poema de domingo, que há muitos anos fiz, num início de Primavera, aí pelos fins da década de sessenta, poema simples e realista naquela altura, mas que hoje ainda mantém muito do seu realismo.
POEMA DE DOMINGO
É domingo,
um sol bonito banha o dia,
e apaga as imagens tristes
dos dias de frio e chuva;
é dia de descanso,
há doce imobilidade
pelas ruas e recantos
e das casas sai pouca gente,
como se o sol da manhã
fosse por todas as janelas
afagar e adormecer as pessoas;
é dia do Senhor;
nascem flores em prados e montes,
pássaros gorjeiam seus arroubos,
espreguiçam-se os mares,
canta-se a missa nas igrejas
e o eco estremece-as
divinamente;
é dia do Senhor,
é dia do Senhor;
pelos campos e aldeias
dormem as noras e os carros,
os tractores e os arados,
ruminam os animais
e os homens fumam ao sol,
mansamente,
encostados aos muros;
nos jardins de Lisboa
lêem-se ao sol os jornais,
engraxam-se os sapatos,
e os cegos não esmolam nas ruas;
é dia do Senhor,
é dia de paz ...
Mas há tantos corações
em que é dia de tristeza,
desengano, angústia,
crueldade, luto ...
Oh! Lá longe, noutras terras,
noutros continentes,
não há paz para os homens,
não é dia do Senhor ...
Selvas de África,
da América Latina,
planaltos da Ásia,
desertos do Médio Oriente ...
aí atroam armas e mais armas,
explodem bombas e mais bombas,
corre sangue e sangue,
é dia de horror, sem sol,
noite de fogo, pavorosa,
guerra, destruição, morte
– oh, que dia tão triste e negro
pode ser o dia do Senhor!...
(Poema meu.)
Mírtilo