Todos temos um lugar, uma personalidade e um viver no caminho para a morte.
Sexta-feira, 01 de Maio de 2009

 

    

 

     O Dia do Trabalhador comemora-se a 1 de Maio, como é generalizadamente sabido,  e centenas de  milhares de trabalhadores, das mais variadas actividades, reformados até, o comemoram, um pouco por todo o País,  mormente em Lisboa e Porto, como é óbvio.

     O Dia do Trabalhador está relacionado, e tem nisso a sua origem, com a luta, dura e muito antiga, a nível internacional, pelas oito horas de trabalho diário.

     Tudo teve início aquando da grande manifestação, em 1 de Maio de 1886, de trabalhadores pelas ruas de Chicago em luta pelas referidas oito horas de trabalho.

     Até então trabalhava-se por dia bastante mais que isso, com algumas variações, indo de dez ou doze horas a catorze ou dezasseis por dia.

     Em 1919, na França, os trabalhadores, com as suas lutas, conseguiram finalmente as oito horas diárias de trabalho e o dia 1 de Maio como feriado, em memória da grande e célebre manifestação de Chicago.

     Em 1920, na Rússia, os trabalhadores conseguiram o mesmo objectivo.

     Seguidamente, muitos países, ante a luta dos respectivos trabalhadores, foram adoptando, finalmente, as oito horas de trabalho diário.

     Em Portugal, devido à grande luta dos trabalhadores e ao forte desenvolvimento da actividade sindical durante o primeiro quartel do século xx, a classe profissional dos tipógrafos, sem dúvida das mais lutadoras, talvez até a mais perseverante na luta, conseguiu para a indústria gráfica as oito horas de trabalho diário e uns três anos depois, a seguir à Primeira Guerra Mundial, conseguiu também a contratação colectiva de trabalho.

     Nas outras indústrias do País foi-se continuando a trabalhar pelo menos nove ou dez horas, ou mais, e sem contratação colectiva.

     Depois de Maio de 1926, em Portugal, com a implantação do novo Regime, tudo isto regrediu. E o Estado Novo foi sempre reprimindo a comemoração do Dia do Trabalhador.

     Os tipógrafos, porém, em boa parte, com a sua renitência, sempre o foram comemorando.

     Só depois de 25 de Abril de 1974, com a libertadora revolução e a queda do Estado Novo, é que todos os trabalhadores adquiriram o direito a comemorar livremente o Dia do Trabalhador. 

     Portanto, o primeiro Dia do Trabalhador comemorado com total liberdade, sem qualquer repressão, com o máximo de alegria, foi em 1 de Maio de 1974 e ficou para sempre inesquecível. Mas, com o passar de alguns anos, tal comemoração passou a entristecer em certa medida, devido  sobretudo a salários em atraso a muitos trabalhadores por parte de algumas empresas patronais, salários que em muitos casos jamais foram recebidos, tendo  sempre surgido, com o decorrer dos anos, por parte da legislação laboral, das empresas, ou da política dos sucessivos Governos, algo em desfavor dos trabalhadores, tudo tendo culminado este ano, na sequência da múltipla crise económica e laboral que o País já tinha, sobretudo com a deslocação de muitas empresas, portuguesas até, para países do Leste Europeu, onde os salários eram muito inferiores,  e mais a tão grande e global crise económico-financeira que também atingiu forçosamente Portugal, na maior taxa de desemprego até hoje verificada, por isso com uma comemoração do Dia do Trabalhador, este ano, muito mais toldada pela tristeza e incerteza no futuro laboral, e no que isso acarreta, para muitos milhares de trabalhadores, pelo menos  cerca de quinhentos mil já desempregados e inscritos nos centros de emprego e muitos outros milhares que correm o risco de também perder o posto de trabalho.

     Diga-se, porém, que a filosofia, ou espírito, da comemoração do Dia do Trabalhador, ainda que pareça ou faça suspeitar tratar-se de um evento só político, tem também muito de outras componentes: convívio, lazer, arte, desporto.

 

 

                            

                                                                                                    Mírtilo        

        


Quarta-feira, 29 de Abril de 2009

          

     Hoje, 29 de Abril, que o rescaldo das comemorações  da Revolução já lá vai, e embora quase já só se comemore a recordação ou a saudade desse libertador dia 25 de Abril de 1974, deve  reafirmar-se  ainda com esperança  — para que tal reafirmação não corra mais o risco de tornar-se um lugar-comum, ou até esquecer — que a Revolução de 25 de Abril de 1974 pretendeu, e sobretudo viria a pretender, enterrando um sistema político-social antiquado, obscurantista e antipopular, dar livre expressão e justas oportunidades a toda a gente, «as portas que Abril abriu», para que se construísse um Portugal aberto, educado, justo, para todos. Não foi, porém, o que aconteceu de todo até agora, trinta e cinco anos passados, até bastante pelo contrário, certamente porque os homens que mandam no País, isto é, quem detém o poder político e quem detém o poder económico (que por vezes infelizmente se confundem), obedecem e agem  mais a uma lógica plutocrática, lucrosa e ostentatória, pouco tendendo para políticas ou obras de carácter social ou sem fins lucrativos, contaminando por aí a baixo a sociedade de exagerado espírito de dinheiro  e consumismo, com tudo o que de mau isso pode arrastar, juntando-se a tal o imenso descalabro económico-financeiro da crise que recentemente sobreveio, em Portugal e pelo mundo fora,  provocando uma torrente imparável de despedimentos, ainda que em parte ilegalmente, ficando, em consequência de tudo isto, uma grande parte da população em inerte pobreza, aprisionada nos seus fracos ou míseros salários e pensões ou em penúria completa, ou então endividada até para sobreviver ou para pagar o consumismo para que foi atraída pela agressividade negocial bancária.

 

                                          *   *   *

 

     De seguida, para melhor recordar, transcrevo um soneto meu, inédito, sobre o 25 de Abril de 1974, em que se vê ter sido uma revolução mais ou menos pacífica, para não dizer de todo pacífica, pois que o Poder de então vivia apenas escorado no pavor que infundia, e em que se vê também o que o povo sofria, sobretudo a sua falta de liberdade de expressão, e, em antítese, a sua voz livre e a sua alegria após a queda do opressor Regime, vendo-se também a tão grande coragem dos que fizeram a revolução.

 

 

                                    25 DE ABRIL

 

 

                     Escura, muda, dentro dela o segredo,

                  a noite parecia escrava, vulgar,

                  mas algures, sem o mocho piar,

                  alguns gestos, decisão sobre o medo,

  

                  trazem pela noite temerário enredo:

                  «Há um povo, que é escravo, a libertar!»

                  De repente, armas mudas a apontar

                  tombam o império, o terror, o degredo.

 

                  Madrugada. Segredam horizontes.

                  Manhã. Povo à rua. Tombam no chão

                  mordaças, grilhetas. Das mudas fontes

 

                  renasce a voz, unida em acusação.

                  Exulta a liberdade e chega aos montes.

                  Abril. A luz. Esperança doutro pão.

 

 

                  (Poema meu.)        

                  http://lagash.blogs.sapo.pt/2009/04/25/                                                             

                                                                           Mírtilo       

         

                        

                                            



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