MÉRTOLA, antiquíssima e importantíssima cidade de MYRTILIS,
nos tempos da ocupação romana,
tem sido e é, nos tempos actuais,
vila muito linda, muito pictórica e muito poética.
EU QUERIA ...
Eu queria, Mértola, minha terra,
em poesia que em ti se encerra,
tanta, tanta, que me traz tão transido,
desse pobre tempo tão dolorido
em que fui menino e jovem sonhador,
elevar-te a poético alcandor,
a par do orográfico e histórico,
em sentido real ou metafórico,
em poesia, Mértola, salientar-te,
em poética memória eternizar-te,
memória esquecida ou não sabida,
no passado enterrada qual jazida
de pobreza por minério de ouro,
para mim qual teu tão triste tesouro,
eu queria qual teu mineiro ser
de poemas desse tempo de sofrer,
para a seus descendentes mostrar
o que pais e avós tiveram de passar,
homens dias sem tostão auferir
à espera de trabalho sem vir,
mulheres sem ter pão que na mesa pôr,
de manhã, ao meio-dia, ao sol-pôr,
mas eu queria, Mértola, também,
porque esse pobre tempo alguma tem,
referir certa alegria de então,
mesmo do povo às vezes sem pão,
das pessoas o respeito e a moral,
sem a criminalidade actual,
em que nem pela fome um pobre roubava,
porque então de ser honrado deixava,
eu queria, Mértola, se pudesse,
se inspiração meu estro enriquecesse,
lá na minha infância e adolescência
poetizar-te em sentida transparência
e presencialmente ter-te na alma,
tornando-a de novo humilde e tão calma,
como se minha própria alma fosses,
a repetir-me sonhos mansos, doces,
ficando eu nesse tempo eternamente,
menino e a adolescer inocente.
(Poema meu.)
Mírtilo