Quando um coração é sensível ao de outros e se sente só e carente de solidariedade ou de amor e vê a seu lado ou perto de si um coração em idêntico estado, há atracção pelo menos de um para o outro coração, vontade de ajudar, desejo de conversar, de abrir o outro coração à conversa confiante e a sentimentos, de lhe suavizar a triste história ou a apertante angústia, com algum estímulo ou esclarecimento ou juntando à dele sua idêntica história ou angústia, de estabelecer entre ambos os corações prometedora ajuda, amizade ou amorosa identificação, em suma solidariedade simples ou temperada de amizade ou de amor.
Contrariando os corações, os cérebros, muitas vezes, por influências ou receios sociais, ou por outros motivos, em que a mão da política não está de todo inocente, opõem-se, nem que seja timidamente, à solidariedade, à amizade e ao amor.
Coração desperdiçado
Só, além naquela rocha, ao canto ...
Apenas desacompanhada? Não.
Sinto-lhe aquele ar de solidão
que só no exterior não é um pranto.
Arde-lhe o peito de angústia (tanto!)
nos seus quarenta anos (mais, talvez não).
Desperdiçado aquele coração,
que a tristeza envolve em tão fundo manto.
O sol da tarde já é pouco quente,
já não anestesia o pensamento,
e chega o frio regresso lentamente.
E eu mais lhe sinto o afogado alento,
na sua beleza e passos rescendente,
e mostrar-me igual era meu intento.
(Poema meu.)
Mírtilo