Hoje, dia 10 de Junho, é Dia de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Camões nasceu provavelmente em 1524 (ou 1525) e faleceu a 10 de Junho de 1580, sendo o seu lugar de nascimento disputado sobretudo entre Lisboa e Coimbra.
Muito se disse e se pode dizer sobre Camões, para o bem e para o mal, acabando, devido a certos factos da sua vida, por se tornar evidente o seu reconhecimento como alguém que sofreu muito e como tendo sido o maior poeta português de todos os tempos, sobretudo por ter escrito a obra máxima da poesia portuguesa, Os Lusíadas, obra épica que veio a ser o poema nacional por excelência, a narrar a História de Portugal enquanto decorre a viagem de Vasco da Gama à Índia, o descobrimento do caminho marítimo para a Índia, ou para todo o Oriente.
Camões sofreu em combate, onde ficou sem o olho direito, sofreu socialmente, sofreu desamores, sofreu penas oficiais, como prisão, sofreu um naufrágio, sofreu a doença, sofreu a miséria ..., e só depois da primeira edição de Os Lusíadas, em 1572, a oito anos de falecer, é que oficialmente lhe foi reconhecido valor e concedida uma tença (espécie de pensão na altura) anual de 15 000 réis, que o tirou um pouco da miséria em que vivia, mas esta tença foi mais concedida pelos serviços militares por Camões prestados sobretudo na Índia do que por ter escrito Os Lusíadas, não lhe tendo sido paga com a regularidade necessária e sendo inferior a outras tenças concedidas então, não tendo, portanto, na devida conta o inestimável serviço que o poeta prestara à Pátria ao dar-lhe a obra Os Lusíadas.
Os seus sonetos, de temas variados, demonstram muito da sua personalidade, das suas aventuras e desventuras, do que sofreu ... E como prova do que sofreu, refira-se o amaldiçoamento do seu dia de nascimento, como que o arrependimento de ter nascido, expresso no soneto «O dia em que eu nasci moura e pereça».
O dia em que eu nasci
moura e pereça
O dia em que eu nasci moura e pereça,
não o queira jamais o tempo dar,
não torne mais ao mundo, e, se tornar,
eclipse nesse passo o Sol padeça.
A luz lhe falte, o sol se lhe escureça,
mostre o mundo sinais de se acabar,
nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,
a mãe ao próprio filho não conheça.
As pessoas pasmadas de ignorantes,
as lágrimas no rosto, a cor perdida,
cuidem que o mundo já se destruiu.
Ó gente temerosa, não te espantes,
que este dia deu ao mundo a vida
mais desgraçada que jamais se viu!
(Poema de Camões.)
Mírtilo