Todos temos um lugar, uma personalidade e um viver no caminho para a morte.
Quinta-feira, 21 de Maio de 2009

 

 

     Em Portugal, assim como por outros países da Europa, vão terminando os campeonatos de futebol. Vai-se aproximando uma paragem nas competições deste desporto, «desporto-rei», como vulgarmente é chamado, até pelos relatores e comentadores desportivos, querendo com isso significar que é ao futebol, de entre todos os desportos, que se dá inequivocamente muito mais atenção e meios, pode dizer-se que não há comparação possível,  e que,  certamente também por isso, é o futebol que arrasta, também incomparavelmente, muitíssimo mais as multidões.

     Sem qualquer sombra de dúvida, o futebol sempre foi de há muito o grande desporto do povo em geral, quer a nível  do escalão superior, isto é, da primeira divisão nacional, quer a nível regional e local, isto é, em todos os outros escalões ou divisões, ou seja, regional e localmente o povo tinha o clube da sua terra ou de terra próxima e cujos jogos via e com os quais vibrava familiarmente,  e a nível de primeira divisão tinha também o seu clube de adepto, ao longe, quase qual heróico ou patriótico clube superior. E dizia-se, isto é, dizia sobretudo a Oposição ao Regime do Estado Novo, incluindo muita gente da classe culta de então, que com futebol (e com vinho) o povo estava abstraído dos problemas políticos e sociais que o afligiam e não se cultivaria tanto, sendo por isso mais remota a hipótese de sublevações populares ou de reivindicações, pois um povo inculto, mergulhado em obscurantismo, seria sempre mais fraco e mais fácil de conter.

     A seguir ao 25 de Abril de 1974, no auge do espírito progressista e do combate ao velho estado das coisas, muito se disse que o anterior Regime tinha o povo alienado pelo futebol e tentou-se modificar isso, tirando a esse desporto alguma da idolatria que o povo lhe dedicava. E conseguiu-se minorar um pouco essa admiração exagerada pelo futebol, sobretudo o da primeira divisão nacional. Para algum tempo depois, não muito, em reviravolta ainda mais engrandecedora ou alienadora do futebol, até as elites sociais, incluindo políticos e governantes, incompreensivelmente, inesperadamente, se voltarem mais para o futebol, até que se começou a compreender o porquê disto: era uma certa táctica de caça aos votos para quando viessem eleições e também uma certa prática promíscua de política, capital e futebol que se poderia traduzir em dinheiro, em lucro.

     E assim se chegou aos problemas que ultimamente se despoletaram relativamente à promiscuidade de futebol, política e capital, com muitos casos que chegam ou não a tribunal mas que vão regra geral acabando a contento dos réus ou dos arguidos.

     E será admissível que os futebolistas,  ainda que os melhores, em geral com fracas habilitações literárias ou culturais e sem qualquer curso específico ou outro, apenas repetida prática, aufiram fabulosas fortunas em comparação com profissionais de nível elevado e, muito mais chocantemente ainda, em comparação com  os tão parcos salários dos trabalhadores em geral?

 

 

 

                                                  Futebol

 

 

Não é preciso, para ser bom futebolista,

curso académico ou profissional possuir,

nem de grande intelecto ou cultura usufruir,

basta ter jeito e sobretudo que a sorte assista,

 

mas, em curto horário de trabalho a cumprir,

o ganho é imensamente mais que cientista,

médico, advogado, engenheiro, governante, artista.

E os clubes de economias quase a falir,

 

muitos sem os impostos ao Estado pagar,

mas vendem, quais objectos, jogadores por milhões,

talvez recebam capital sujo a branquear.

 

E nos estádios claques em selvagens acções,

árbitros que, a errar, estragam jogos, sem pena.

Futebol é poder, intimida, corrompe, aliena.

 

 

 

 

 

(Poema meu.)

 

 

 

 

 

                                                                                                      Mírtilo

 

 

 

                                                                             

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

             

 

 

 

                                                

   

 

 

                                                                    

      

publicado por Mírtilo MR às 16:23


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